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Não era trote de 1º de abril: conheça história de telefonista potiguar que salvou cidade do RN de enchente há 41 anos

Por LivreTV Notícias em 01/04/2022 às 17:10:30
Caso envolveu as cidades de Santa Cruz e Campo Redondo e enxurrada deixou mais de 1 mil casas destruídas. Maria de Fátima é tida como heroína até os dias atuais por ter evitado tragédia maior. Telefonista de Campo Redondo que desafiou o "Dia da Mentira" e evitou que enchente atingis

Um açude estava próximo a romper e botar em risco famílias que moravam no entorno. Uma telefonista, com uma das raras linhas em cidades interioranas na década de 1980, então, corre para ligar e avisar a um município vizinho sobre o problema, mas tem a informação descredenciada, vista como piada. O motivo: era 1º de abril, Dia da Mentira.

O caso aconteceu em 1981 e envolveu as cidades de Campo Redondo e Santa Cruz, no interior do Rio Grande do Norte.

Maria de Fátima era telefonista e evitou tragédia ainda maior

Divulgação

A telefonista Maria de Fátima da Silva precisou insistir para as autoridades entenderem que o aviso não se tratava de uma brincadeira e conseguiu evitar uma tragédia ainda maior, já que mais de 1 mil casas na região foram destruídas e mais de 3 mil pessoas ficaram desabrigadas.

O ato dela foi considerado heroico, já que aquela situação é vista até os dias atuais como a maior enxurrada já registrada na região.

O caso

Maria de Fátima trabalhava em uma empresa de telefonia e operava a, praticamente, única linha que existia na cidade de Campo Redondo.

Ela foi avisada por pescadores sobre o iminente rompimento do açude Mãe D'Água após fortes chuvas e ligou para a cidade vizinha, Santa Cruz, já que a água desembocaria no Rio Trairi - o açude Santa Cruz também seria afetado. Mas ninguém acreditou, achando ser um trote do Dia da Mentira.

Maria de Fátima trabalhava como telefonista na época das inundações e é vista como heroína nas cidades de Campo Redondo e Santa Cruz

Divulgação

Ao invés de desistir, ela persistiu no contato mesmo após ter o telefone ser desligado. E foi aí que alguém lhe deu crédito e decidiu passar o telefone para o Monsenhor Raimundo Barbosa, pároco da cidade na época.

"Falei com o Monsenhor Raimundo, mas ele não queria acreditar não. E eu disse: 'pode acreditar, que é verdade'. Ele me disse que era 1º de abril, mas eu disse: 'é verdade mesmo'", contou Maria de Fátima, que hoje é aposentada como professora da rede estadual de ensino.

"Eu insisti, mas eles não queriam acreditar não, porque era 1º de abril. Eles acabaram acreditando, e aí saíram avisando na rua num carro de som", completou.

Heroína

A insistência de Maria de Fátima foi reconhecida como um ato heroico que salvou a vida de milhares de moradores de Santa Cruz.

Durante as inundações, outros problemas ainda dificultaram a comunicação, como a a energia na cidade, que caiu.

"Com essas chuvas, faltou energia aqui em Campo Redondo e ficaram gerando energia do posto da Telern (empresa operadora de telefonias no RN naquela época) com a bateria de um carro. Fizeram uma gambiarra pra ela continuar avisando", contou o professor Daniel Medeiros, de 45 anos, que é morador do município até os dias atuais.

A telefonista chegou a ser homenageada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte quando a história completou 30 anos.

Desabrigados

Uma matéria noticiada no jornal Diário de Natal na época do episódio informou que mais de 1 mil casas foram destruídas, outras centenas danificadas e mais de 3 mil pessoas estavam desabrigadas. O evento foi tratado como "a mais violenta enxurrada já registrada no RN". Segundo o jornal, pelo seis pessoas morreram.

"A tragédia aconteceu depois que açude Santa Cruz teve sua capacidade de represamento d'água duplicada de cinco para mais de dez milhões de metros cúbicos, em virtude dos arrombamento do açude Mãe D'Água e uma pequena barragem em Campo Redondo, distante 20 quilômetros", cita o texto.

Jornal Diário de Natal noticiou a tragédia em Santa Cruz

Biblioteca Nacional

O texto diz que a situação parecia controlada até o momento em que o prefeito da cidade recebeu "comunicação de Campo Redondo de que as águas atingiam um metro e meio sobre a parede do Mãe D'Água".

O prefeito, então, "utilizando de um serviço de som da municipalidade, apelava à população das partes baixas da cidade se retirarem de suas casas e procurarem pontos mais altos".

As pessoas foram abrigadas em prédios públicos e residenciais. O então governador Lavosier Maia decretou estado de calamidade pública no Trairi.

O principal acidente, segundo a publicação, foi na BR-226, na ponte sobre o Rio Inharé, em que uma caminhonete em alta velocidade caiu no rio "quando se iniciava a erosão do aterro de acesso à ponte". O veículo conduzia cinco passageiros e três morreram.

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