De acordo com dados do Inpe, maio também registrou o maior número de focos de calor comparado ao mesmo mês dos anos anteriores. Uso do fogo controlado pode impedir que queimadas causem devastação
Fernando Alves/Governo do Tocantins
A Amazônia teve 2.308 focos de calor em junho, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe). Este é o maior número de queimadas desde 2007 para o mesmo mês, comparado com junho dos anos anteriores. O dado foi divulgado nesta quinta-feira (1º).
Junho de 2020 já havia registrado o recorde histórico em focos de calor para o mesmo mês, mas os focos em junho deste ano foram ainda maiores, representando um aumento de 2,6%.
Maio também foi um mês de recorde de fogo na Amazônia. Os satélites do Inpe registraram um aumento de 49% nos focos de calor do que o registrado em maio de 2020. O número deste ano é ainda 34,5% superior à média histórica do mês.
Os dados do Inpe mostram que a situação já preocupa na Amazônia antes mesmo do início da temporada do fogo, que se inicia em agosto de cada ano e costuma durar cerca de quatro meses.
O Greenpeace Brasil relacionou as queimadas na Amazônia com o desmatamento e as mudanças climáticas. A organização lembrou ainda que a queima de florestas e outras vegetações nativas é a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no Brasil.
“Estamos vivendo um momento muito triste para a floresta e seus povos. Eles estão sendo atacados por todos os lados, seja pelos desmatadores, grileiros, madeireiros e garimpeiros que avançam sobre a floresta ou territórios, seja por meio do Congresso e do Poder Executivo que, não só não combatem esses crimes e danos ambientais, como os estimulam, seja por atos ou omissões”, disse Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Na terça-feira, o governo federal publicou um decreto com validade imediata suspendendo por 120 dias o uso de fogo no território nacional, conforme o previsto no decreto 2.661, de 1998, que trata de práticas agropastoris e florestais.
O Greenpeace afirma, contudo, que apenas medidas como essa não são capazes de proibir o fogo na Amazônia, uma vez o governo federal publicou o mesmo decreto no ano passado e, no entanto, os focos de incêndio em 2020 foram 15% maior do que em 2019.
5 mil campos de futebol na mira do fogo
Uma área de 5 mil quilômetros quadrados desmatados na Amazônia, correspondente a 5 mil campos de futebol ou quatro vezes a cidade de São Paulo, está sob risco de queimada na temporada do fogo de 2021, com início previsto para julho .
O alerta é de um levantamento do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do Woodwell Climate Research publicado nesta quarta-feira (30). Segundo os pesquisadores, as áreas desmatadas e ainda não queimadas desde 2019 e uma seca intensa provocada pelo fenômeno La Niña indicam atenção especial para a ocorrência do fogo na Amazônia especialmente no sul da região.
"Há quase 5 mil quilômetros quadrados de área, quase quatro vezes o município de São Paulo, com vegetação derrubada e seca só esperando alguém chegar com o fogo. A queimada, nesse caso, é a última etapa do desmatamento, a forma mais barata e rápida de limpar o terreno para seu uso posterior", diz o levantamento.
Além do tamanho da área vulnerável ao fogo este ano, mais de um terço dessa região está concentrado em apenas dez municípios do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia.
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O levantamento também esclarece que o fogo na Amazônia não é natural, mas provocado, principalmente, pelo desmatamento da floresta, e piorado pelas mudanças climáticas.
"Quando as florestas são cortadas, as árvores e os galhos mortos são empilhados para secar, completando o ciclo do desmatamento. Esse fogo, de grande intensidade, pode escapar para florestas e, se combinado a condições secas, causar grandes danos. Tais condições têm se tornado mais frequentes como resultado da combinação dos efeitos locais do desmatamento com as mudanças climáticas globais", diz o documento.
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Moratória do fogo
Apesar da suspensão do fogo em território nacional por 120 dias, o decreto da terça-feira permite uso do fogo nas seguintes hipóteses:
práticas de prevenção e combate a incêndios realizadas ou supervisionadas pelas instituições públicas responsáveis pela prevenção e pelo combate aos incêndios florestais no País;
práticas agrícolas de subsistência executadas pelas populações tradicionais e indígenas;
atividades de pesquisa científica realizadas por Instituição Científica, Tecnológica e de Inovação - ICT, desde que autorizadas pelo órgão ambiental competente;
controle fitossanitário, desde que autorizado pelo órgão ambiental competente;
queimas controladas imprescindíveis à realização de práticas agrícolas e autorizadas por autoridade ambiental estadual ou distrital, em áreas não localizadas nos biomas Amazônia e Pantanal.
Para o Observatório do Clima, a nova moratória, feita nos moldes da de 2020, é uma "cortina de fumaça" sobre o problema das queimadas e não apresenta nenhum plano de combate ao fogo, treinamento de brigadas e fornecimento de equipamentos.
"O governo assina decretos ao mesmo tempo em que distribui gasolina e fósforo na Amazônia" afirmou o secretário executivo do OC, Márcio Astrini, na terça.
Em 2020, a região teve mais de 100 mil focos de queimadas registrados pelo Inpe, o maior em uma década. Em 2019, também houve aumento das queimadas e o número de focos de calor registrados foi 30% maior do que em 2018.
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Contudo, em agosto de 2020, o Ministério do Meio Ambiente chegou a suspender todas as operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e às queimadas no Pantanal. Outras paralisações dos brigadistas se seguiram em 2020, mesmo dados do Inpe mostrando que o número de focos de incêndio registrados na Amazônia de janeiro a setembro já era o maior desde 2010.
Outro dado preocupante do Inpe mostra onde ocorreram os incêndio na Amazônia: um terço deles está em terras públicas sem destinação.
Entre agosto de 2019 e setembro de 2020 - período das queimadas - ocorreram quase 150 mil focos de queimadas no bioma. Segundo o Inpe, Mais de 35% deles ocorreram em terras públicas sem destinação, que são terras da União e que deveriam ser preservadas pelo governo. Foram 53.359 mil focos de incêndio no período em terras da própria União, equivalente a 127 queimadas ilegais ocorridas todos os dias apenas nestas áreas de preservação.
VÍDEOS: incêndios florestais