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Trans vítima de agressão em Natal relata medo de novo ataque: 'pode tentar algo pior comigo'

Por LivreTV Notícias em 02/12/2021 às 10:23:41
Vendedora relatou crime e disse que precisa voltar a trabalhar, mas teme pela vida, porque o agressor foi solto. OAB presta apoio. Luara Beyts, de 28 anos, sofreu ataque transfóbico enquanto trabalhava em Natal

Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi

No rosto, as marcas das agressões mostram o peso da intolerância. Luara Beyts, de 28 anos, sofreu um ataque transfóbico enquanto trabalhava no centro de Natal.

Ela afirma que está com medo de voltar a trabalhar depois que soube que o agressor, levado à delegacia, foi liberado após prestar depoimento.

"Eu fico com receio de voltar. Se ele fica na rua, ele pode tentar coisa pior comigo. Até mesmo porque ele voltou pela loja, as meninas contaram, e acho que ele voltou para ver se me encontrava, para fazer coisa pior", disse em entrevista à Inter TV Cabugi.

A agressão na calçada da rua João Pessoa, no centro da capital, foi registrada por câmeras de segurança e é investigada pela Polícia Civil. A imagem mostra a vítima parada quando o agressor surge e dá um soco nela.

Trabalhadora trans é agredida em Natal

A vendedora teve ferimentos no nariz, sangrou muito e precisou de atendimento médico. Ela trabalha há pouco mais de um mês distribuindo panfletos na frente da loja. É o primeiro emprego dela depois que se mudou para Natal, vinda de Baía Formosa, no interior do Rio Grande do Norte.

"Eu estava panfletando, como todos os dias, normalmente, daí, do nada, quando me deparei foi com o ato acontecido, não sei o porquê. Nem cheguei a oferecer panfleto, porque ele já vinha com cara fechada mesmo. Deixei ele passa por trás normalmente, mas ele fez isso comigo", relatou a vítima.

O agressor foi detido e encaminhado à 2ª Delegacia de Polícia no bairro Brasília Teimosa. No depoimento à polícia ele confessou o crime, porém, depois de ouvido, foi liberado.

Marca no rosto de vendedora trans vítima de agressão em Natal

Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi

Luara afirmou que deseja que a Justiça tome as medidas necessárias para que ela se sinta segura de voltar ao trabalho.

Não vou ficar presa pelo que eu sou. Eu tenho que sair mesmo, trabalhar. Preciso trabalhar como todas as outras pessoas, ter minhas coisas. Mas fico com bastante receio de voltar pro mesmo canto e ele vá lá

Segundo a Polícia Civil, o homem tem antecedentes criminais e já responde por posse ilegal de arma de fogo. Depois de ser solto, ele teria sido visto tentando intimidar outras vendedoras, ontem à tarde, na mesma calçada onde a agressão aconteceu.

A OAB ofereceu assistência e apoio institucional à vítima. O advogado Bruno Henrique diz que vai pedir uma medida protetiva com base na Lei Maria da Penha.

"Estamos diante de um caso incontestável de homofobia, uma violência em razão de gênero, que tanto a sociedade tem combatido. Foi uma agressão covarde, sem a menor justificativa, e que tem que ser reprimida pela Justiça. No primeiro momento, a gente enxerga até a possibilidade de pedir algumas medidas cautelares, pelo menos uma medida de urgência para que ele não se aproxime dela", afirmou.

OAB acompanha caso de vendedora trans agredida durante o trabalho em Natal

Sérgio Henrique Santos/Inter TV Cabugi

A Polícia Civil informou que trata o caso como violência decorrente de orientação sexual e identidade de gênero. Em nota, a corporação afirmou que o inquérito civil irá apurar a prática de lesões corporais graves e condutas homofóbicas, que são consideradas pela jurisprudência como crime de racismo. O advogado criticou o fato de que o exame de corpo de delito ainda não foi realizado.

Como a vítima estava em atendimento médico e não pôde ser ouvida na mesma tarde das agressões, deve prestar depoimento nesta quinta-feira (2) na delegacia.

Governadora se pronuncia

Nas suas redes sociais, a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), afirmou que, após tomar conhecimento do caso, entrou em contato com os auxiliares das secretarias de Segurança Pública e Direitos Humanos para determinar apuração.

"Pedi a averiguação imediata e celeridade no esclarecimento do caso. Providências foram adotadas e o inquérito já foi instaurado para apuração com todo rigor e seriedade que exige. Não nos omitiremos diante de tamanha violência. Queremos um RN livre do ódio e do preconceito", disse.
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