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Presidente da CPI dĂĄ voz de prisão a Roberto Dias sob acusação de mentir à comissão após divulgação de ĂĄudio

Por LivreTV Notícias em 07/07/2021 às 18:03:34
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

O presidente da CPI da Covid deu voz de prisão para o ex-diretor de logĂ­stica do Ministério da SaĂșde Roberto Ferreira Dias, que presta depoimento nesta quarta-feira.

— Ele vai ser recolhido pela PolĂ­cia do Senado. EstĂĄ mentido desde manhã.

Mais cedo, o ex-diretor de logĂ­stica do Ministério da SaĂșde Roberto Ferreira Dias afirmou à CPI da Covid que as negociações para a compra de vacinas estavam "restritas" à secretaria-executiva da pasta e não tinham relação com o departamento onde trabalhou. No entanto, Dias se contradisse ao afirmar que não negociava vacina, mas confirmar que recebeu e-mail da empresa que ofereceu o vacina indiana Covaxin. Dias foi exonerado do cargo logo após a denĂșncia de um suposto pedido de propina se tornar pĂșblica, além de ter sido acusado de pressionar de maneira "atĂ­pica" a compra da vacina indiana Covaxin.

Apontado como indicação do deputado Ricardo Barros (PP-PR) e do ex-deputado Abelardo Lupion, Roberto Dias é considerado peça-chave para desvendar detalhes de denĂșncias de irregularidades na negociação de compra da vacina AstraZeneca, feitas pelo vendedor Luiz Dominghetti, e da indiana Covaxin, reveladas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o servidor do Ministério da SaĂșde Luis Ricardo Miranda.

Questionado sobre a negociação sobre as vacinas, Dias disse:

— Negociação de vacina de Covid-19 não era minha atribuição.

Dias disse que a reunião oficial, no Ministério da SaĂșde, foi tão somente para entregar o documento que atestaria que a empresa representava a AstraZeneca e a existĂȘncia realmente de 400 milhões de doses.

— Se faz agendamento com representantes da empresa, se não é negociação, é o que, pelo amor de Deus? — questionou a senadora Eliziane Gama (Cidadania -MA).

O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), perguntou por que ele discutiu vacina se isso não era atribuição dele, e sim da secretaria-executiva.

— Não houve negociação. O que houve foi a verificação da existĂȘncia das 400 milhões [de doses]? — respondeu.

— Não era mais com vocĂȘ! Não tem lógica isso! — interrompeu Aziz.

Depois, Dias disse que um diretor da Secretaria de Vigilância em SaĂșde (SVS) da pasta, com a "mesma honestidade de propósito", recebeu a Secretaria Nacional de Assuntos HumanitĂĄrios (Senah), para verificar a existĂȘncia das doses. Apesar do nome, a Sehan é uma entidade privada.

Diante da contradição, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), sugeriu uma acareação entre Roberto Dias e o ex-secretĂĄrio-executivo do Ministério da SaĂșde Elcio Franco.

Humberto Costa (PT-PE) também defendeu a convocação de Elcio:

— O secretĂĄrio- executivo recebeu superpoderes para comprar vacinas, portanto é o grande responsĂĄvel pelos atrasos e pelas tentativas de golpe como foi essa vacina da Davati. Ele precisa vir aqui.

DenĂșncia de propina

Dias foi acusado pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, de ter pedido propina para autorizar a compra da vacina AstraZeneca pelo governo federal. Segundo a denĂșncia do PM, o ex-diretor teria pedido US$ 1 por dose durante um jantar em BrasĂ­lia. Dias, por sua vez, afirmou que estĂĄ sendo injustamente acusado, que as acusações não tĂȘm materialidade e chamou o PM de "picareta".

Ele confirmou que conheceu Dominghetti no restaurante Vasto, no BrasĂ­lia Shopping, mas negou ter pedido propina e disse que solicitou ao representante da empresa Davati que encaminhasse um pedido formal de compra de vacina, que nunca prosperou.

— Estou sendo acusado sem provas por dois cidadãos, o senhor Dominghetti, que aqui nesta CPI foi constatado ser um picareta que tentava aplicar golpes em prefeituras e no Ministério da SaĂșde — disse Dias completando: — O deputado Luis Miranda possui um currĂ­culo controverso — disse, fazendo menção ao parlamentar que o acusa de pressionar de forma "atĂ­pica" a compra da vacina Covaxin.

Dias rebate acusações

Em sua fala inicial, Dias reclamou estar sendo "massacrado" e entende que isso se deve ao fato de ter tomado iniciativa para enfrentar a pandemia.

— Estou hĂĄ mais de dez dias sendo massacrado e citado em todos os veĂ­culos de comunicação sem que haja uma Ășnica prova ou indĂ­cio que sustente tais acusações — afirmou, acrescentando: — Nuca pedi nenhuma vantagem ao senhor Dominghetti ou a ninguém.

Sobre a acusação de pressão para liberar a Covaxin, ele disse que pensou ter sido retaliação por ter negado um pedido de cargo ao servidor Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF). Mas disse que agora vĂȘ razão financeira por trĂĄs, porque Miranda teria tido algum negócio frustrado. Ele afirmou que vai apresentar queixa-crime por calĂșnia e difamação contra as pessoas que o acusam.

As negociações para aquisição da Covaxin são investigadas pela CPI da Covid, pelo Ministério PĂșblico Federal, pela PolĂ­cia Federal e pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Roberto Dias disse que, de forma geral, as empresas intermediĂĄrias tentam obter do Ministério da SaĂșde um documento chamado LOI ("letter of intent" em inglĂȘs, ou carta de intenção). Isso permitiria que elas negociassem em nome da pasta.

— Da Davati, recebi e-mails cobrando posição do ministério. Meu Ășnico e-mail foi: eu preciso da carta de representação da Astra Zeneca.

Dias disse ainda que foi nomeado para o cargo pelo ex-ministro da SaĂșde Luiz Henrique Mandetta, por indicação do ex-deputado Abelardo Lupion. A cada troca de ministro, afirmou, permanecia no posto por conhecer bem a ĂĄrea. Questionado pelo relator Renan Calheiro por que o ex-ministro Eduardo Pazuello quis demiti-lo em certo momento, após irregularidades na aquisição de testes de Covid-19, Dias disse desconhecer esse episódio.

O ex-diretor alegou que pediu ao ex-ministro que fosse indicado para a AgĂȘncia de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa), porque estava cansado do trabalho no ministério durante a pandemia. Dias teria sido mantido no cargo devido à pressão polĂ­tica.

— Eu desconheço que ele (Pazuello) pediu minha exoneração — afirmou.

Detalhes sobre o jantar

Dias disse que não combinou um encontro com Dominguetti num restaurante em um shopping de BrasĂ­lia, onde, segundo a acusação do PM, ele teria pedido propina.

— Eu tinha uma reunião com um amigo no restaurante para um chope. Na sequĂȘncia, o coronel Blanco chega com esse senhor que posteriormente foi identificado como Dominghetti. Como não foi um evento marcado, combinado, não me recordo de detalhes — disse.

O coronel Marcelo Blanco ocupava um cargo no Ministério da SaĂșde. Dias acredita que o militar descobriu que ele estava no restaurante, tendo levado Dominghetti. No encontro, eles combinaram de ter uma reunião no dia seguinte no Ministério da SaĂșde.

— Para que não fosse tratado fora do âmbito do Ministério da SaĂșde, pedi que fosse realizada uma agenda oficial — disse o ex-diretor de logĂ­stica da pasta.

O amigo citado por Dias é o empresĂĄrio José Ricardo Santana, e não o coronel Alexandre Martinelli. Na semana passada, ao prestar depoimento, Dominghetti disse que havia um empresĂĄrio, cujo nome não se lembrava, no jantar. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) mostrou uma foto e perguntou se era aquela pessoa, e ele disse que parecia ser ela. Em seguida a foto foi mostrada na comissão: era o coronel Alexandre Martinelli, que havia sido exonerado de um cargo no Ministério da SaĂșde em janeiro de 2021.

Indagado pelo relator sobre detalhes do jantar, o ex-diretor disse que o encontro no restaurante não demorou mais que uma hora, ou uma hora e meia. E também afirmou que não recordava se pagou a conta em dinheiro, se foi dividida ou se alguém pagou o valor total. Em depoimento à CPI, Dominghetti disse que Dias foi quem pagou a conta em dinheiro.

Pressão para Covaxin

No depoimento, o ex-diretor também negou ter feito pressão ao servidor Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado Luis Miranda, para importação da vacina indiana.

— Eu nunca insisti em apressar a aprovação dessa vacina (Covaxin) — afirmou Dias, dizendo também desconhecer quem teria feito pressão ao servidor do ministério.

O ex-diretor afirmou que existe apenas uma mensagem a Luis Miranda perguntando sobre vacina, mas que, no caso, ele se referia a uma carga de imunizantes da Covax Facility que chegaria no fim de semana no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.

O senador Renan Calheiros perguntou se Alex Lial Marinho e o coronel Marcelo Pires (que segundo Luis Ricardo também fizeram pressão) eram subordinados a ele. Dias disse que Alex era subordinado a ele, mas que Marcelo Pires erespondia ao secretĂĄrio-executivo.

Segundo Roberto Dias, dois subordinados competentes foram exonerados e, no lugar, foram colocados dos miliares indicados pelo então secretĂĄrio-executivo Elcio Franco. E com frequĂȘncia eles se comunicavam diretamente com Elcio, sem passar pela intermediação do próprio Roberto. Na avaliação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), houve uma intervenção da secretaria-executiva do Ministério da SaĂșde no Departamento de LogĂ­stica da pasta.

Roberto afirmou que as trocas foram feitas na Coordenação de LogĂ­stica, na qual entrou o tenente-coronel Alex Lial Marinho, e na Coordenação Financeira, que passou a ser chefiada por um tenente-coronel que ele acredita se chamar Marcelo Costa. Além disso, houve a imposição de um outro nome, o coronel Marcelo Blanco, para ser seu assessor direto. Alex Lial Marinho é uma das pessoas que, segundo o servidor Luis Ricardo Miranda, o pressionaram pela liberação da Covaxin.

Disputa no Ministério da SaĂșde

O senador Eduardo Braga (MDB-AM) insistiu para que o depoente falasse sobre as disputas no Ministério da SaĂșde e confirmar o motivo do pedido de sua exoneração por parte do coronel Elcio Franco, ex-secretĂĄrio executivo do Ministério da SaĂșde.

— Ou vocĂȘ esclarece o que estĂĄ acontecendo ou todos nós vamos ficar com uma dĂșvida na cabeça permanente — disse Braga.

— De fato, não sei responder — garantiu Dias.

— O senhor feriu interesse? — indagou Aziz.

— Não consigo dizer — afirmou o depoente.

Preço das vacinas

Dias disse que o Departamento de LogĂ­stica do Ministério da SaĂșde não participou de levantamento de preços de vacinas. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), disse então que um documento do Ministério da SaĂșde com essa informação, enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU), era mentiroso.

— Talvez esse equĂ­voco se deva porque, em outros insumos, isso aconteceria. No âmbito da Covid-19, todas essas tratativas foram feitas exclusivamente pela Secretara Executiva — disse Dias.

Em razão dessa resposta, Omar Aziz (PSD-AM) disse que havia um fato grave:

— Se não era ele que cuidava das vacinas, por que ele foi se reunir [para tratar de vacina]?

Dias disse também não saber a justificativa dada para a compra da Covaxin com preço 50% maior que os imunizantes da Pfizer e AstraZeneca.

O lĂ­der do governo, Fernando Bezerra, voltou a negar superfaturamento nas negociações para a compra da vacina Covaxin e chamou Dominghetti de "desonesto". Também afirmou que a empresa Davati apresentou uma oferta à revelia da AstraZeneca, empresa acusada de dar golpe para compra de imunizantes no CanadĂĄ.

— A conduta de Roberto Ferreira Dias teve como Ășnico intuito atender o devido processo adotado pelo ministério para contratação de vacinas — afirmou Bezerra.

Sobre o invoice

O ex-secretĂĄrio disse que a incorporação de uma terceira empresa em um contrato seria uma exceção, mas que também poderia ser feito um aditamento. Justificou ainda que o invoice (nota fiscal) é apenas um "rascunho".

— A gente estĂĄ diante de um crime impossĂ­vel porque a invoice (nota fiscal) em grosso modo pode vir dizendo o que ela quer. Se vocĂȘ compra uma televisão de trĂȘs mil e a nota diz que é cinco, não quer dizer que vai pagar cinco. Ela custa trĂȘs — disse o ex-secretĂĄrio, destacando que o documento tem conotação de nota fiscal, mas é um" rascunho".

Ainda de acordo com Dias, o servidor Luis Ricardo Miranda pediu que fosse indicado para um cargo comissionado, com salĂĄrio de R$ 9 a R$ 10 mil, mas ele não concordou porque avaliou que "não tinha perfil" para o cargo.

Bate-boca

Ao questionar a proposta apresentada pelo governo para compra da Covaxin, afirmando que foi o presidente Jair Bolsonaro que fez o pedido ao primeiro-ministro da Índia, o relator Renan Calheiros provocou revolta dos senadores governistas gerando bate-boca. Renan disse que a CPI tem o documento com a proposta de U$$ 10 e que, na assinatura do contrato, o governo comprou por U$S 15 em curto espaço de tempo.

— O presidente da RepĂșblica apenas não sabia da bandalheira, ele tinha participado. É muito pior. Ele pediu para o primeiro-ministro para comprar — afirmou Calheiros.

A fala gerou a reação dos senadores governistas presentes.

— Não tem proposta, nunca teve proposta, tem uma memória de reunião. Vossa ExcelĂȘncia estĂĄ desafiado a apresentar a proposta — gritou o lĂ­der do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE)

Com a confusão, o ĂĄudio da audiĂȘncia chegou a ser suspenso.

"Lado podre das Forças Armadas"

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), questionou o ex-diretor, que é militar da AeronĂĄutica, sobre o motivo de estar sendo perseguido pelo policial militarDominghetti. Dias, disse que "também gostaria de saber". Aziz então criticou o lado "podre" das Forças Armadas.

— Os bons das Forças Armadas devem estar muito envergonhados com algumas pessoas que hoje estão na mĂ­dia, porque fazia muito tempo, fazia muitos anos que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatruas dentro do governo — afirmou.

Após citar o perĂ­odo da ditadura, Aziz disse então que os ex-presidentes Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo morreram pobres.

— Uma coisa que a gente não acusava era de corrupção — afirmou.

O presidente da CPI se referiu então aos nomes de militares em exposição, como o ex-ministro Eduardo Pazuello; o coronel do Exército Élcio Franco, que foi secretĂĄrio-executivo, segundo posto na hierarquia da pasta; e do coronel da AeronĂĄutica Glaucio Octaviano Guerra, militar com quem Dominghetti trocou mensagens sobre fornecimento de vacinas.

— É preciso apurar, ouvir os dois lados e buscar o contraditório — interrompeu o senador governista Marcos Rogério (DEM-RO), em defesa do governo.

Fonte: O Globo

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