Municípios da região metropolitana de Natal não podem mais enviar pacientes diretamente para a unidade, sem passar por central de regulação. Ambulâncias do Samu na entrada no Hospital Walfredo Gurgel, em Natal.Kleber Teixeira/Inter TV CabugiMaior hospital da rede pública de saúde do Rio Grande do Norte, o Hospital Walfredo Gurgel passa a funcionar com entrada de pacientes regulados a partir desta quarta-feira (15), segundo anunciou a Secretaria Estadual de Saúde. Isso significa que a unidade irá receber os pacientes que forem cadastrados anteriormente em uma central de regulação, que vai distribuí-los de acordo com a gravidade e prioridade de atendimento. A unidade é voltada para pacientes clínicos graves e pessoas politraumatizadas, além de vítimas de arma de fogo e arma branca.Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, a medida visa permitir que a unidade de urgência receba o seu perfil de atendimentos.A primeira etapa envolve a Região Metropolitana de Natal, que engloba 70% dos atendimentos do hospital. Segundo a Sesap, a região gera um grande número de atendimentos de casos de menor gravidade e sem regulação, que representam cerca de 50% dos pacientes recebidos na unidade, enviados pelas Unidades de Pronto-Atendimento e Unidades Básicas de Saúde (UBS).Ainda segundo a Sesap, essa demanda provoca as superlotações do hospital, sobrecarrega os trabalhadores da unidade e inviabiliza qualquer planejamento estratégico.Com isso, os pacientes devem procurar inicialmente os serviços de porta de entrada do sistema, como as unidades básicas de saúde e as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs). A situação preocupa o Conselho dos Secretários Municipais de Saúde. Segundo a presidente do conselho, Maria Eliza Soares, embora os secretários reconheçam a necessidade de regulação, consideram que falta estrutura nos hospitais regionais e na rede como um todo para suprir o atendimento aos pacientes."A pergunta é: para onde essas pessoas vão? As outras unidades estão organizadas? Não basta fazer um desenho se não houver nas outras unidades uma verdadeira condição de atendê-las. A gente resolve parte do problema, mas cria outro grande problema", afirmou. Homem morre após gravar vídeo denunciando falta de atendimento em hospital público do RN; governo determina investigaçãoMaior hospital público do RN tem corredores lotados de pacientes à espera de cirurgias ortopédicasA secretária-adjunta de Saúde Pública, Lyane Ramalho, argumentou que o processo vai começar pela região metropolitana justamente porque é a região que já está mais preparada para essa mudança. "É uma preocupação que os municípios têm e não deixa de ser legítima, porque essa regulação vem sendo tentada há alguns anos. Mas as portas das unidades dos regionais e dos municípios vem sendo qualificadas desde o início da gestão e da pandemia. Gradativamente, com a preparação dos municípios, vamos ampliar essa regulação", afirmou.A diretora da unidade, Fátima Pereira, afirmou que o hospital não vai deixar de atender pessoas que chegarem à unidade em busca de atendimento, mas o paciente será avaliado e, se a equipe médica considerar que ele não se encaixa no perfil de atendimento, será encaminhado a outra unidade. Decisão judicialO governo ainda afirmou que a regulação da unidade atende uma decisão judicial que teria mais de 20 anos."Essa regulação faz parte de uma política pública que este governo está enfrentando o desafio de colocar em prática, vem de uma decisão judicial que remonta o início dos anos 90 e agora vamos conseguir, com essas parcerias, colocar em funcionamento. Não temos como regular a porta do Walfredo Gurgel se não amadurecermos as portas de acesso nos municípios", disse a secretária-adjunta de Saúde Pública, Lyane Ramalho.Como vai funcionarA Central de Acesso às Portas Hospitalares ficará responsável por receber os contatos dos municípios, que ao invés de enviarem espontaneamente as ambulâncias para o hospital, devem primeiro comunicar os casos e seguir as orientações dadas de acordo com o estado de saúde do paciente. Segundo a Sesap, estão sendo feitas reuniões com os municípios e um trabalho de educação permanente com os profissionais envolvidos no processo de regulação. Ainda segundo a pasta, a regulação a partir desta quarta (15) foi acertada em conjunto com o Ministério Público, através da Promotoria de Saúde. "Nossa atuação tem um viés que estamos olhando para o paciente grave, pois a baixa e média complexidade tem outras portas. A defesa é que o paciente grave tenha atendimento com eficiência sem ter que concorrer com pacientes de baixa complexidade", disse a promotora da Saúde, Iara PinheiroA presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES), Aldenísia Albuquerque, ressaltou a importância da regionalização da Saúde para ajudar nesse processo. "Esperamos a estruturação dos hospitais regionais para que possam atender as pessoas onde elas moram e iniciar um processo pedagógico com usuários e governantes, para que entendam que colocar pacientes numa ambulância e mandar para o Walfredo Gurgel não é estar a favor da rede de saúde", completou.Veja os vídeos mais assistidos no g1 RN